Fonte: Equipe do RDM 2022, com base em dados do FMI (2021b); Banco Mundial, Indicadores de Desenvolvimento Mundial (banco de dados), . Observa??o: A figura apresenta o estoque da d¨ªvida do governo geral como porcentagem do produto interno bruto (PIB) por classifica??o de renda do Banco Mundial. |
O ac¨²mulo resultante da d¨ªvida p¨²blica imp?e riscos significativos para a recupera??o econ?mica mundial. Governos superendividados n?o t¨ºm capacidade para investir em bens p¨²blicos, como educa??o e sa¨²de p¨²blica, o que se traduz em risco de resultados piores de desenvolvimento humano e aumentos abruptos da desigualdadeii. Os pa¨ªses em situa??o de superendividamento tamb¨¦m t¨ºm capacidade limitada para lidar com choques futuros e podem ser incapazes de servir como credores de ¨²ltima inst?ncia para empresas do setor privado que precisem de assist¨ºncia governamentaliii.
A crise sist¨ºmica da d¨ªvida que afetou significativamente as economias emergentes na d¨¦cada de 1980 ilustra as terr¨ªveis consequ¨ºncias econ?micas e sociais decorrentes de atrasos na a??o pol¨ªtica para mitigar os riscos da escalada da d¨ªvida p¨²blicaiv. Muitos pa¨ªses da Am¨¦rica Latina e da ?frica Subsaariana vivenciaram uma d¨¦cada perdida de desenvolvimento: a infla??o aumentou, o c?mbio depreciou significativamente, a produ??o entrou em colapso, a renda despencou e a pobreza e a desigualdade aumentaram em todas as regi?es. Os 41 pa¨ªses que deram default em suas d¨ªvidas p¨²blicas entre 1980 e 1985 precisaram, em m¨¦dia, de oito anos para recuperar seus n¨ªveis de PIB per capita pr¨¦-crise. Nos 20 pa¨ªses com as piores quedas de produ??o, as consequ¨ºncias econ?micas e sociais da crise da d¨ªvida estenderam-se por mais de uma d¨¦cada.
A experi¨ºncia desses pa¨ªses ressalta a import?ncia de a??es urgentes para evitar uma crise prolongada da d¨ªvida ap¨®s a Covid-19. A solu??o? Os pa¨ªses devem administrar a d¨ªvida governamental insustent¨¢vel de forma r¨¢pida e proativa para minimizar seus custos econ?micos e sociais e permitir que os gastos p¨²blicos alimentem uma recupera??o econ?mica equitativa. A abordagem depende da gravidade dos desafios da d¨ªvida ¡ª ou seja, do est¨¢gio atual do problema. Os elementos da abordagem incluem os aspectos descritos a seguir.
Gest?o da d¨ªvida p¨²blica para garantir recursos para a recupera??o
Nos pa¨ªses com alto risco de superendividamento, a gest?o proativa da d¨ªvida pode reduzir a probabilidade de default e disponibilizar recursos para apoiar a recupera??o econ?mica. Em termos gerais, existem duas op??es para a gest?o da d¨ªvida: (1) reformula??o do perfil da d¨ªvida ¡ª isto ¨¦, modifica??es no cronograma agregado de pagamentos futuros do pa¨ªs por meio de refinanciamento, substitui??o da d¨ªvida ou renegocia??es; ou (2) reestrutura??o da d¨ªvida ¡ª isto ¨¦, modifica??es na estrutura financeira dos passivos para reduzir seu valor presente l¨ªquido.
Uma opera??o de reformula??o do perfil da d¨ªvida pode ser ¨²til quando um pa¨ªs tem m¨²ltiplos empr¨¦stimos a vencer no mesmo ano ou outros tipos de exposi??o acumulada, como na composi??o cambial dos passivos. O pa¨ªs poderia emitir novas d¨ªvidas com perfil de vencimento mais longo ou mais regular. Essas opera??es tamb¨¦m podem ajudar a gerenciar riscos cambiais, que, com frequ¨ºncia, elevam as preocupa??es com a sustentabilidade da d¨ªvida. Nesses casos, em vez de alterar o vencimento da d¨ªvida existente, a opera??o de reformula??o do perfil da d¨ªvida eliminaria a d¨ªvida existente denominada em uma moeda e emitiria nova d¨ªvida em outra moeda.
Os pa¨ªses que enfrentam um risco crescente de inadimpl¨ºncia tamb¨¦m t¨ºm a op??o de iniciar negocia??es preventivas com seus credores visando a uma reestrutura??o da d¨ªvida. Essa op??o se beneficia principalmente da transpar¨ºncia em torno dos termos e da propriedade da d¨ªvida. As evid¨ºncias indicam que as reestrutura??es preventivas s?o resolvidas mais rapidamente que as reestrutura??es p¨®s-inadimpl¨ºncia [default], levam a uma exclus?o menos prolongada do pa¨ªs dos mercados de capitais globais e est?o associadas a uma menor perda de produ??ov. Nessas situa??es, ¨¦ importante minimizar as chances de um credor individual tentar manter a situa??o para colher os benef¨ªcios da opera??o.
Resolu??o do superendividamento
Quando um governo se encontra em situa??o de superendividamento, as op??es para enfrentar o problema s?o mais limitadas. Uma ferramenta importante nessa fase ¨¦ a reestrutura??o da d¨ªvida associada a um plano de reforma fiscal e econ?mica de m¨¦dio prazo. A otimiza??o do uso dessa ferramenta requer o reconhecimento imediato da extens?o do problema, coordena??o com e entre os credores e um entendimento por parte de todos de que a reestrutura??o ¨¦ o primeiro passo para a sustentabilidade da d¨ªvida. Institui??es financeiras internacionais, tais como o Fundo Monet¨¢rio Internacional e o Banco Mundial, frequentemente desempenham um papel importante no processo de reestrutura??o da d¨ªvida das economias emergentes, fornecendo as an¨¢lises de sustentabilidade da d¨ªvida necess¨¢rias para compreender o problema de forma mais completa e, muitas vezes, oferecendo o financiamento adequado para viabilizar uma solu??o.
Um acordo de reestrutura??o ¨¢gil e profundo permite uma recupera??o mais r¨¢pida e sustentadavi. Dados hist¨®ricos, entretanto, revelam que o superendividamento de governos costuma levar anos para ser solucionado. Mesmo quando um pa¨ªs entra em negocia??es com seus credores, muitas vezes s?o necess¨¢rias m¨²ltiplas rodadas de reestrutura??o da d¨ªvida para que ele saia do superendividamento (figura 5.2). A Nig¨¦ria e a Pol?nia, por exemplo, tiveram de negociar sete acordos de reestrutura??o antes de conseguirem solucionar suas d¨ªvidas insustent¨¢veis.
Figura 5.2. 10. Reestrutura??o da d¨ªvida p¨²blica e dura??o da inadimpl¨ºncia [default], pa¨ªses selecionados, 1975¨C2000