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REPORTAGEM

No oeste da Amaz?nia, pesca sustent¨¢vel ajuda fam¨ªlias ind¨ªgenas a vencer a pobreza

19 de abril de 2013


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Um pirarucu ¨¤ venda no mercado de Juta¨ª, na regi?o do Alto Solim?es. A esp¨¦cie foi apelidada de "bacalhau da Amaz?nia" devido ¨¤ consist¨ºncia da carne.

Jean-Martin Brault / Banco Mundial

DESTAQUES DO ARTIGO
  • A popula??o de pirarucus vem crescendo na regi?o do Alto Solim?es, uma das mais isoladas da Amaz?nia.
  • Com 230 mil habitantes, a regi?o faz fronteira com o Peru e a Col?mbia.
  • Aproximadamente um quinto dos moradores da regi?o tem origem ind¨ªgena.

Segundo uma lenda amaz?nica, o pirarucu ¨C um dos maiores peixes de rio que existem ¨C surgiu de um guerreiro ind¨ªgena malvado. A esp¨¦cie, com at¨¦ 3m de comprimento e 200kg na fase adulta, tem corpo comprido e chato, rabo arredondado e uma boca grande ¨C que assustava os antigos pescadores.  

Nos dias de hoje, por¨¦m, atribui-se um novo superpoder ¨¤ esp¨¦cie: o de melhorar as vidas de pelo menos 1,500 fam¨ªlias de origem ind¨ªgena. Elas est?o ¨¤ frente de um trabalho de pesca sustent¨¢vel na regi?o do Alto Solim?es.

L¨¢, enquanto as atividades de pesca ilegal est?o em queda, a popula??o de pirarucus (entre outras esp¨¦cies) retoma o crescimento, gra?as a esse esfor?o. ¡°Os lagos daqui estavam quase sem nenhum peixe¡±, lembra o pescador Ata¨ªde Gon?alves.

A iniciativa faz parte de um projeto maior, que busca levar desenvolvimento a uma das regi?es mais isoladas e pobres da Amaz?nia. O projeto ¨¦ gerenciado pelo Governo do Amazonas e pelo Banco Mundial.

De olho na respira??o

Os pirarucus da regi?o vivem nos lagos conectados ao Rio Solim?es e localizados (em sua maior parte) dentro de terras ind¨ªgenas. Sabendo disso, pescadores e t¨¦cnicos do projeto fizeram a seguinte classifica??o:

  • Nos lagos de conserva??o, est¨¢ proibido pescar, pois eles s?o usados para a reprodu??o dos peixes.
  • Nos lagos de manejo, as fam¨ªlias podem trabalhar de mar?o a novembro e precisam obedecer a um limite de pesca.
  • Nos lagos de manuten??o, os pescadores podem pegar peixe o ano inteiro, inclusive para consumo pr¨®prio.

As comunidades recebem aulas de educa??o ambiental e, uma vez capacitadas, podem come?ar a monitorar os lagos do Alto Solim?es. Elas se revezam e, via r¨¢dio, denunciam qualquer atividade de pesca ilegal.

Al¨¦m disso, todo m¨ºs de agosto, as comunidades fazem a contagem do pirarucu. O peixe vai ¨¤ superf¨ªcie a cada 20 minutos para respirar ¨C e, quando faz isso, solta um som muito particular. Os pescadores mais experientes analisam esses sinais e, com eles, calculam a popula??o.

Os n¨²meros s?o passados ao Ibama, que, por sua vez, estabelece o limite de pesca para cada temporada.


" Os lagos daqui estavam quase sem nenhum peixe "

Ata¨ªde Gon?alves

Pescador

Alimento para as comunidades

Depois de pescar, as fam¨ªlias colocam um lacre do Ibama nos peixes (para garantir que eles foram pegos legalmente) antes de mand¨¢-los aos mercados locais.

¡°Agora, algumas fam¨ªlias tiram at¨¦ R$ 1.000 por m¨ºs¡±, explica Geraldo Ara¨²jo, subcoordenador do projeto no Governo do Amazonas.  

A pesca ainda permitiu que munic¨ªpios como Tonantins ganhassem uma atividade econ?mica regular. ¡°A gente alimenta n?o s¨® a nossa cidade, mas tamb¨¦m muitas outras¡±, orgulha-se Jos¨¦ Oliveira, da associa??o local de pescadores.

¡°Esse ¨¦ um ¨®timo resultado numa regi?o t?o isolada e importante do ponto de vista ambiental¡±, avalia a especialista Agnes Velloso, do Banco Mundial. ¡°? essencial gerenciar os recursos naturais do Alto Solim?es de modo sustent¨¢vel.¡±

O fim de um fardo

Por s¨¦culos, os homens do Alto Solim?es precisaram carregar os pirarucus nas costas floresta adentro. Hoje, com apoio do projeto, as associa??es de pescadores conseguiram comprar pequenos tratores, que diminuem o tempo de transporte da mercadoria. ¡°Estamos muito gratos por isso¡±, diz o pescador M¨¢rio Andrade.

Eles agora t¨ºm um novo objetivo: ganhar mais acesso a refrigeradores, tanto nos tratores quanto nos barcos de pesca. ¡°Essa foi uma necessidade que descobrimos ¨¤ medida que o projeto evoluiu¡±, explica Velloso.

As equipes do Banco e do governo atualmente analisam como ajudar a preencher essa lacuna ¨C seja com o pr¨®prio projeto, seja em uma iniciativa ¨¤ parte.

Mesmo com esse e outros desafios, os impactos do projeto at¨¦ o momento podem ser considerados positivos.

¡°Mais do que oferecer uma fonte regular de renda, esse trabalho permitiu que os benefici¨¢rios ganhassem mais controle sobre as pr¨®prias terras e sentissem uma necessidade maior de preservar suas culturas¡±, comenta Ara¨²jo.


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