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REPORTAGEM

Como evitar que os desastres naturais causem terremotos na economia brasileira

17 de janeiro de 2017


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Em 2010, as inunda??es destru¨ªram a infraestrutura das cidades pr¨®ximas ao Rio Munda¨², em Alagoas

Antonio Cruz/ABr.

Novos dados ajudam a compreender impactos de seca e enchentes sobre infraestrutura e contas p¨²blicas

A cada vez que uma chuva forte cai nas cidades ou uma seca afeta qualquer regi?o brasileira, a economia do pa¨ªs sofre um golpe consider¨¢vel. Foram nada menos do que R$ 9 bilh?es anuais (US$ 2,8 bilh?es) entre 1995 e 2014, ou R$ 182,8 bilh?es (US$ 56,7 bilh?es) ao longo desses 20 anos.

As perdas se acumulam na infraestrutura, na agricultura, nos servi?os p¨²blicos e privados e na ind¨²stria. Muitas vezes, as verbas destinadas ¨¤s a??es de emerg¨ºncia superam as originalmente destinadas pelos governos a ¨¢reas como saneamento e transportes. Com isso, desfaz-se a velha impress?o de que o Brasil n?o ¨¦ afetado por desastres naturais, apesar de n?o sofrer com terremotos de grande magnitude (como o Chile ou o Haiti) ou furac?es (como o Caribe).

Obter um retrato fiel do impacto s¨® se tornou poss¨ªvel porque o Brasil disp?e hoje de uma base de dados sobre os preju¨ªzos reportados pelos munic¨ªpios: o Sistema Integrado de Informa??es de Desastres (S2ID), da Secretaria Nacional de Prote??o e Defesa Civil. Modelo sem equivalente na Am¨¦rica Latina, deu origem a um estudo que analisou quase 53,8 mil registros de desastres no Brasil entre 1995 e 2014.

O foi publicado no fim de 2016 pelo Banco Mundial e o Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Segundo a pesquisa, as secas ¨C que evoluem lentamente e, por isso, os governos demoram a reagir ¨C s?o os fen?menos reportados pelos munic¨ªpios com maior frequ¨ºncia. ¡°Eles representam 48% dos registros e ocorrem mais nas regi?es Nordeste e Sul¡±, explica Rafael Schadeck, organizador do documento. Os desastres relacionados ao excesso de chuvas, documentados principalmente no Sudeste, v¨ºm em segundo lugar, com 39% das ocorr¨ºncias.

O advento do S2ID possibilitou n?o somente o acesso a uma fonte de informa??es ¨¤queles envolvidos com gest?o de riscos de desastres, mas uma mudan?a cultural significativa.

¡°Os munic¨ªpios brasileiros apenas reportavam eventos de desastres caso tivessem interesse em acessar recursos do governo federal para o apoio humanit¨¢rio e resposta a desastres. Mais recentemente, observa-se que in¨²meros munic¨ªpios fazem esse relato sem a inten??o de pleitear recursos federais, o que nos possibilita melhor compreender a dimens?o do desafio no Brasil, bem como suas especificidades¡±, comenta o especialista em gest?o de riscos de desastres Frederico Pedroso, do Banco Mundial.


" Entre 1995 e 2014, o Brasil perdeu R$ 9 bilh?es por ano com desastres naturais "

Prote??o financeira

O sistema e o novo estudo fazem parte de um esfor?o maior em entender como os desastres naturais afetam a Am¨¦rica Latina e Caribe e como ¨¦ poss¨ªvel evitar danos mais graves. Tamb¨¦m no fim do ano passado, calculou o impacto dos desastres sobre os pobres e constatou que as perdas causadas por desastres s?o, em m¨¦dia, de US$ 84 bilh?es por ano, o dobro do calculado em estimativas anteriores.

Quando a popula??o pobre ¨¦ v¨ªtima de uma cat¨¢strofe, a perda proporcional de riqueza ¨¦ de duas a tr¨ºs vezes maior do que entre a n?o-pobre, devido ¨¤ natureza e ¨¤ vulnerabilidade dos seus bens e meios de subsist¨ºncia.

Em 2014, por exemplo, mais de 500.000 fam¨ªlias pobres na Nicar¨¢gua, El Salvador, Honduras e Guatemala ficaram sem ter o que comer por causa das chuvas sem precedentes. Na Guatemala, a aumentou em pelo menos 7% nas ¨¢reas afetadas pelo furac?o Stan.

Outra constata??o importante do estudo ¨¦ a de que cada d¨®lar gasto em prote??o social ap¨®s um desastre representa US$ 4 em benef¨ªcios em pa¨ªses como Bol¨ªvia, Brasil, Col?mbia, Honduras e Panam¨¢.

Dados desse tipo cada vez mais possibilitam aos pa¨ªses da Am¨¦rica Latina adotar pol¨ªticas p¨²blicas bem fundamentadas e investir tanto na preven??o quanto na resposta. No Brasil, por exemplo, o Banco Mundial tem fornecido apoio t¨¦cnico aos governos nacionais, estaduais e municipais para calcular a exposi??o de bens a perigos naturais, apresentar ferramentas para prote??o financeira contra desastres e avaliar perdas e danos p¨®s-desastres.

Todas essas atividades, cujos resultados aparecer?o a longo prazo, s?o fundamentais para reduzir cada vez mais os impactos humanos e econ?micos provocados por chuvas, secas, vendavais, granizo e outros fen?menos na atualmente fragilizada economia brasileira. 


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